Dos terraços do Duomo é possível avistar uma obra muito peculiar que não passa despercebida. A Torre Velasca, nos seus cento e seis metros de altura. Rompe com a regra na skyline milanesa desde os anos cinquenta e é um exemplo perfeito da arquitectura moderna e brutalista. É mais um dos exemplos arquitectónicos que ouvi falar na faculdade, em Lisboa, mas é sempre diferente ver de perto.
Estar em Milão desde setembro e ainda não ter subido aos terraços do Duomo era uma questão que me incomodava imenso, mas os dias frios e cinzentos que temos atravessado por aqui não convidavam a subir tão alto. Felizmente o tempo deu tréguas durante dois dias e saí de casa para aproveitar o sol de inverno no topo do Duomo. Não que o frio se tenha ido embora, afinal, estamos em pleno inverno, mas tinha a certeza que o aspecto limpo desde dia ia deixar-me ver muito além. Era domingo e, como sempre, a praça do Duomo estava cheia de turistas. As filas das bilheteiras eram enormes, mas quando há filas intermináveis é porque vale a pena e o facto é que valeu mesmo a espera e o número sem fim de degraus subidos. Eu sou suspeita, que adoro subir a sítios altos e olhar as cidades, mas há sempre sítios mais especiais do que outros. Este é especial. Avistava-se os alpes, naquele dia. Fotografei tanto quanto pude para quando a memória me falhar, mas saí de lá com vontade de me aventurar a subir aquelas escadas sem fim novamente.
Milão é conhecida como a cidade da moda e do luxo. Muitos dos acontecimentos importantes do mundo da moda acontecem aqui e raras são as lojas mundialmente conhecidas que já não têm os seus espaços espalhados pela cidade. Já o povo Milanês é conhecido como um dos mais sedutores de Itália, mas será...? É comum ver verdadeiras ladies a andar de bicicleta em pleno salto agulha. Qual Sarah Jessica Parker! As senhoras de Milão dominam a arte de usar um salto alto! E os senhores? O verdadeiro senhor italiano está sempre impecável da cabeça aos pés. Contudo, e como tudo mais, há de tudo por aqui! Milão é cidade da moda e do luxo, mas não o é exclusivamente.
Provavelmente é excessivo, mas não me canso de visitar esta parte da cidade. É, de longe, o sítio mais bonito. Sempre que aqui volto acho que reparo num ou outro detalhe novo. As fotografias nunca são iguais e é agradável ficar por ali a observar uns minutos só porque sim. Daqui a meses, anos até, vai ser agradável voltar aqui e rever as fotografias que tirei, por isso nunca serão demais. As fotografias avivam-nos a memória. Há qualquer coisa de mágico nestas galerias, não há?
Não só de pastas e pizzas se faz a alimentação dos italianos, embora eles nunca variem muito. Há também os panzerottis. São um petisco italiano igualmente delicioso e assemelham-se a um rissol gigante ou então a um mini calzone. Há o recheio simples, com mozzarella e pomodoro, e há os recheios com ingredientes extra que inclui espinafres. Em Milão, o sítio perfeito para provar um panzerotto fica mesmo ao lado do Duomo, numa rua estreita mas muito concorrida, tal é a fama da casa que os vende acabados de sair do forno ou da frigideira. A fila de espera é quase sempre gigante, mas a espera não se torna insuportável porque a loja é pequena e não recebe clientes para sentar. Chama-se Luini, está de portas abertas há quase setenta anos e é paragem obrigatória!
Sábado é dia de mercato aqui nas redondezas. Sabe-se onde toda a gente vai mal saímos da porta do prédio, ou não estivesse toda a gente acompanhada do seu carrinho de compras. O mercato estende-se por uma rua enorme aqui de Lambrate, na Via Carlo Valvassori Peroni. Começa cedo, logo pela manhã. A rua pinta-se das cores das frutas e ouve-se regatear em italiano em cada banca. Do lado esquerdo, exibem-se as frutas, os legumes, os enchidos, o frango assado e tudo o que houver para comer tipicamente italiano. Do lado direito, estendem-se os cabides com roupa perfeita para o frio que se vive por aqui. Gosto de passar por aqui ao sábado sempre que preciso e tenho tempo porque me faz lembrar a feira da Malveira, em Portugal, que fica mesmo ao pé de casa. Prefiro fazer as compras dos frescos aqui, que o supermercado torna-se aborrecido. Aqui aprende-se italiano um bocadinho de cada vez e escolhemos a banca que tem os frescos mais bonitos. Estes mercatos são sítios muito mais ricos. E bonitos!
Sobre Mim
Catarina França
Arquitecta de profissão e fascinada pela sensação de pisar território desconhecido.